Estudos de compostos candidatos a antibióticos aumentam nos últimos anos
O advento dos antibióticos revolucionou a medicina no início do século XX, proporcionando ferramentas poderosas para tratar uma variedade de infecções. No entanto, a história revela um padrão preocupante: a rápida emergência de resistência por parte das bactérias.
Lucas W.S.Sousa
1/18/20243 min read


A resistência antimicrobiana é um grande desafio para a saúde pública global. Novos relatórios mostram alguns avanços na busca por novos antimicrobianos, mas também destacam a necessidade de mais pesquisa e coordenação.
O primeiro antibiótico, a arsfenamina, foi descoberto em 1907 e usado para tratar sífilis a partir de 1910. Porém, em 1928 foram relatados os primeiros casos de resistência a esse composto. O mesmo ocorreu com a penicilina, descoberta em 1928 e amplamente usada na década de 1940, contra a qual as primeiras cepas resistentes surgiram em 1944.
Desafios e Avanços na Luta Contra a Resistência Antimicrobiana:


Paul ehrlich: Descobridor do primeiro antibiótico da história, a arsfenamina, em 1907
Esse tem sido um padrão histórico: poucos anos após a introdução de um novo antibiótico no mercado, bactérias resistentes a ele começam a aparecer. Isso ocorre porque o uso disseminado dá às bactérias a oportunidade de desenvolver mecanismos para escapar da ação desses medicamentos. É como um jogo de xadrez, no qual a cada nova molecula as bactérias rapidamente encontram uma forma de escapar.
Até o final da década de 1970, a indústria farmacêutica lançava novos antibióticos extraídos de bactérias e fungos para contornar o problema. Mas ficou mais difícil encontrar novas moléculas nos organismos mais estudados. Além disso, as empresas passaram a priorizar medicamentos mais lucrativos para doenças crônicas, reduzindo os investimentos em antibióticos.
Isso levou a um período de "vazio" na descoberta de novos compostos, com a pesquisa ficando a cargo de laboratórios acadêmicos e startups. Eles identificam moléculas promissoras, mas falta capacidade para completar todas as etapas e levar um novo antibiótico ao mercado.
A situação ganhou atenção global a partir de 2014, com relatórios da OMS destacando a disseminação da resistência antimicrobiana. Mais de 50 iniciativas surgiram desde então para incentivar o desenvolvimento de novos antibióticos. No entanto, análises apontam falta de coordenação e concentração de recursos nas fases iniciais, o que dificulta que medicamentos cheguem aos pacientes.


De 2013 a 2022, 23 novos antibióticos ou combinações chegaram ao mercado, mas nenhum representa uma nova classe capaz de combater bactérias multirresistentes. Por outro lado, aumentou o número de compostos em testes clínicos, de 40 em 2011 para 62 em 2022. A maioria ainda está nas fases 1 e 2, e grande parte são adaptações de moléculas conhecidas, com risco de rapidamente gerar resistência.
Portanto, apesar de alguns avanços, os desafios permanecem enormes. É fundamental ampliar os investimentos em pesquisa básica para entender melhor os mecanismos de resistência e identificar novos alvos moleculares. Também é preciso mais coordenação entre academia, indústria e governos para traduzir descobertas em medicamentos viáveis e modelos de negócio sustentáveis.
Ao mesmo tempo, é crucial reduzir o uso excessivo de antibióticos na medicina e agricultura, para conter o ritmo de disseminação da resistência. Estratégias de prevenção, controle de infecções e desenvolvimento de vacinas também devem ser priorizadas. Vencer esse desafio requererá uma abordagem global e multifacetada.


Lucas W. S. de Sousa, Biomédico Microbiologista editor e idealizador da página Microbiologia Clínica Brasil.